Opiniões

Novos Rumos da Política Mundial e a Governança Corporativa

O mito de Atlântida, descrita por Platão em seus diálogos Timeu e Crítias, conta sobre uma grandiosa civilização que floresceu em conhecimento, arte e governança, até sucumbir a uma mudança drástica de paradigmas. Nesta lenda, a cidade, outrora modelo de organização e prosperidade, tornou-se vítima de sua própria arrogância, afastando-se dos princípios que a sustentavam.

O colapso de Atlântida não foi imediato; suas bases ruíram lentamente diante de transformações incontroláveis. O que nos leva a questionar: como sociedades e instituições podem se preparar para mudanças inevitáveis sem comprometer sua estrutura fundamental?

Nos tempos atuais, o mundo marcado por mudanças aceleradas faz com que a governança corporativa desempenhe um papel semelhante aos sábios que tentaram alertar sobre o destino de Atlântida.

A reeleição do novo Presidente dos EUA e a mudança governamental histórica na Alemanha, primeira e terceira maiores economias do mundo, trazem a dúvida: as tendências mundiais antes bem estabelecidas irão se modificar drasticamente?

É factual que mudanças de paradigma nas grandes potências globais ressoem diretamente nas tendências para o resto do mundo. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou-se contra iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas empresas. Essa posição reverberou no mercado, com grandes corporações como Meta, McDonald’s e Target abandonando metas de diversidade e inclusão. Em contrapartida, o JP Morgan Chase reafirmou seu compromisso com essas políticas, vinculando a inclusão diretamente ao desempenho e inovação. Além disso, a Costco, através de seus acionistas, votou majoritariamente pela manutenção dessas diretrizes.

Outro ponto de inflexão foi a saída de grandes bancos, como Citigroup, Bank of America, Morgan Stanley, Wells Fargo, JP Morgan e Goldman Sachs, da Net-Zero Banking Alliance (NZBA), iniciativa que buscava comprometer o setor financeiro com metas de neutralidade de carbono. Esse movimento gerou forte repercussão nos fóruns climáticos e levantou questionamentos sobre o futuro das finanças sustentáveis. No entanto, setores estratégicos seguem investindo na economia verde: empresas de tecnologia como Microsoft, Google, Amazon e Meta continuam ampliando voluntariamente seus investimentos em remoção de CO2, reforçando a viabilidade econômica da sustentabilidade.

A adequação das empresas às modificações das tendências mundiais está intrinsecamente ligada à adoção de práticas de governança corporativa. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estabelece quatro pilares essenciais: transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa. Estes princípios servem como bússola para orientar a adaptação das empresas diante de cenários de incerteza, garantindo sua resiliência e competitividade.

A implementação desses princípios se traduz na incorporação de tendências emergentes, como a integração da inteligência artificial nos processos de governança, a ascensão da cibersegurança como prioridade, a transformação digital e a diversificação dos conselhos administrativos. O ESG (ambiental, social e governança) continua a ser um fator decisivo, mas suas diretrizes podem sofrer ajustes significativos. A aposta internacional é que mudanças afetem sobretudo o pilar social do ESG, com discussões sobre diversidade e inclusão sendo relativizadas por pressões políticas. No entanto, a vertente ambiental tende a permanecer robusta, uma vez que os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais evidentes, influenciando diretamente os custos operacionais das empresas e a dinâmica do mercado financeiro global.

Com base nesses cenários, torna-se evidente a importância de preparar as empresas para essas mudanças. Para discutir essas transformações e apresentar caminhos estratégicos, convidamos você a participar do nosso próximo seminário sobre governança corporativa e tendências globais. Inscreva-se através do link: https://agenda.ibefrio.org.br/curso/governanca-corporativa-estrategia-para-empresa-familiar-ou-de-capital-fechado/.