Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau nas eleições
Para quem não se lembra da história, Chapeuzinho Vermelho foi levar doces para sua Vovozinha, a pedido da mãe, que havia recomendado à sua filha que não saísse do caminho; durante seu trajeto, a menina foi afrontada pelo Lobo, que até aquele momento para a Chapeuzinho, ainda não era “mau”, pois ela não conhecia suas intenções.
Após ser distraída pelo Lobo Mau e sair do caminho, perdendo tempo, Chapeuzinho chega à casa da Vovó, que havia sido devorada pelo Lobo; o Lobo Mau, de orelhas, olhos, mãos e boca enormes, como costuma acontecer com esta espécie, veste-se como Vovozinha para enganar Chapeuzinho, que acaba também devorada. Depois a história segue com o aparecimento do Caçador, etc. etc. mas para nossos efeitos ficamos por aqui.
A eleição presidencial polarizada em radicalismos pode remeter à fábula de Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau, senão, vejamos.
O eleitor poderia ser nossa Chapeuzinho Vermelho, que se aventura na floresta perigosa das eleições, apesar da advertência da mãe de não se meter com estranhos. O Lobo Mau pode ser qualquer um dos dois candidatos polarizados à esquerda e à direita, que possivelmente passam para o segundo turno.
Percebemos que o Lobo Mau já devorou a Vovozinha, sem nenhum pudor ou embaraço, previamente ao encontro com Chapeuzinho Vermelho, o clímax da história. O Lobo Mau tem, portanto, maus antecedentes, para usar uma linguagem policial e pode ser personificado como os dois candidatos.
Por um lado, um dos candidatos tenta minimizar os 21 anos de ditadura militar no Brasil e eleva ao pedestal de herói um coronel torturador notório; também passa a ideia de machismo e racismo, pregando o combate à violência com mais violência e por aí vai. Agora, veste a roupa da Vovozinha devorada e se disfarça de bonzinho, à espreita de capturar nossa eleitora Chapeuzinho Vermelho.
O outro candidato tem antecedentes mais recentes, os governos que patrocinaram o Mensalão e o Petrolão, e que tem seu expoente máximo preso após julgamento em segunda instância, e muitos outros em prisão preventiva, em processo de delação premiada; além disso, milhões de desempregados e desalentados nas suas costas, um déficit fiscal continuado e criado intencionalmente (pois “custo é vida”), pedaladas fiscais e maquiagem das contas públicas. Tem como candidata à Vice-Presidência uma integrante inexperiente do Partido Comunista do Brasil, idealismo praticamente extinto com a União Soviética. Veste, tal como o outro candidato, a roupa da Vovozinha, mas tem à mostra as mesmas orelhas, nariz e boca de Lobo Mau indisfarçável.
No programa econômico, um dos candidatos pode assustar muitas Chapeuzinhos com um programa de privatização intenso, que pode acabar com muitos privilégios, revendo também salários e o sistema previdenciário. O outro pode não se importar com a dívida pública crescente, voltar a acreditar que o consumo e o crédito são as soluções e aterrorizar o mercado global com a perspectiva de continuarmos a ter um rating abaixo do grau de investimento e estarmos indo na mesma direção populista da Venezuela, para citar nosso vizinho.
No dia da eleição, não importa a cor do chapéu do eleitor – vermelho, verde e amarelo ou azul: o Lobo Mau estará lá esperando, a postos para ludibriar a inocente Chapeuzinho com sua fantasia de Vovozinha, que não saberá em que Lobo deveria votar. Vamos torcer para que o eleitor saiba escolher o Lobo menos pior, e deixar o pior para o Caçador decidir o que fazer.