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Estamos todos atentos ao fato de que, ao final de dezembro de 2024, ocorrerá a troca do presidente do Banco Central, o que implicará em uma nova postura na política monetária.
A última ata do COPOM já mostrou um dissenso entre os nove membros. Aqueles indicados pelo atual Presidente da República desejam acelerar a queda dos juros; os demais, ainda maioria, adotam uma postura mais conservadora, focando na contenção da inflação, com o atual presidente do Banco Central exercendo o voto de minerva contrário às pretensões do governo.
O que o mercado ainda não percebeu claramente é que, além do presidente do Banco Central, mais dois diretores do COPOM também serão substituídos. Isso permitirá que o Presidente da República indique mais dois membros, assegurando uma maioria favorável no colegiado.
Essa situação nos remete a uma antiga propaganda que afirmava que nove entre dez estrelas de cinema usavam sabonete Lux. Embora tal constatação nunca tenha sido confirmada, foi repetida tantas vezes que se tornou aceita como verdade. A grande preocupação é que a nova composição do colegiado, majoritariamente alinhada com a mesma política econômica, possa não priorizar o cumprimento das metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, pois quase todos usam o mesmo “sabonete Lux”.
A questão central é se todos estão realmente pensando no bem comum, apenas com ideias diferentes de como alcançá-lo. Esta é uma forma de iniciar a discussão.
Os diretores que votaram na última reunião pela redução da taxa Selic em 0,25%, mantendo-a em 10,50% até a próxima reunião, parecem acreditar que uma inflação estável e controlada pode fomentar o desenvolvimento econômico. A estabilidade inflacionária, combinada com controle fiscal, é essencial para estes membros, uma vez que essas variáveis são concebidas como determinantes na recuperação do status de “grau de investimento” pelas agências de rating internacionais, atraindo mais investimentos externos para o Brasil.
Por outro lado, há quem defenda a aceleração da queda dos juros para estimular o emprego e a atividade econômica, beneficiando mais pessoas. Isso, claro, se assumirmos que eles estão agindo de boa-fé, com uma visão técnica diferente.
Uma outra questão que transcende a boa-fé é a declaração do Presidente da República, que várias vezes confessou não se preocupar em manter o equilíbrio fiscal. Ele argumenta que gastos em educação e saúde deveriam ser considerados investimentos. Lula da Silva afirmou querer “se eleger para sempre”, comparando-se a líderes que perpetuam seu poder, como Recep Erdoğan, Vladimir Putin, Aleksandr Lukashenko, Nicolás Maduro, Teodoro Obiang e Xi Jinping.
Pela legislação brasileira, não é possível ser eleito “para sempre”, já que um chefe do Executivo só pode assumir dois mandatos consecutivos. No entanto, um ex-presidente pode concorrer novamente após um intervalo, como é o caso de Lula da Silva, presidente de 2003 a 2010 e retornando em 2023. Parece haver um desejo de seguir os exemplos de líderes que perpetuam seu poder.
Se não houver boa-fé, os membros do COPOM indicados pelo governo poderiam estar focados em objetivos eleitorais, como promover empregos para melhorar a avaliação do governo visando as eleições de 2026, sem considerar os efeitos adversos da inflação e da dívida.
Este grupo que assumirá a política monetária em 2025 parece menos preocupado com a sustentabilidade da dívida brasileira, repetindo a abordagem da ex-presidente Dilma Rousseff, que forçou a redução das taxas de juros, resultando em alta inflação e recessão. A recessão durante seu governo foi equivalente à recessão de duas pandemias de Covid-19.
O Banco Central deve seguir as metas de inflação determinadas pelo Conselho Monetário Nacional – CMN, composto pelo ministro da Fazenda, pelo ministro do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. Mesmo sendo “independente”, o novo presidente do Banco Central indicado pelo Executivo, criará unanimidade no CMN.
Com a chegada de 2025, esta convergência em favor do governo preocupa agentes econômicos e cidadãos atentos ao futuro do país. Não é coincidência que, no primeiro quadrimestre do ano, o Banco Central registrou a saída de quase US$ 21 bilhões, afetando a taxa de câmbio real para cima, embora a balança comercial favorável sugira uma maior disponibilidade de dólares devido às exportações; este fato não é atenuante, uma vez que os exportadores não são obrigados a internar os recursos, alterando a dinâmica tradicional de causa e efeito.
Então, leitores, não estamos “brincando” com pouco fogo: a maioria governista no COPOM pode desencadear um incêndio de maiores proporções, se não houver um debate técnico isento de pressões populistas.