500 Dias Resgatando o Titanic Brasileiro
Acaba de ser lançada a autobiografia de Marcílio Marques Moreira, O Social como Elixir, pela Editora Insight, uma obra essencial para quem deseja compreender um dos mais notáveis homens públicos do Brasil.
Marcílio Moreira assumiu o Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento em maio de 1991, em meio ao turbilhão deixado pelo Plano Collor, liderado por Zélia Cardoso de Mello. Este plano, que incluiu o polêmico confisco de contas bancárias e poupanças, não foi capaz de conter a inflação e mergulhou o país em uma crise de confiança e instabilidade.
Entre os que o conhecem de perto, Marcílio é lembrado como o homem que, com coragem e competência, aceitou a difícil missão de tentar resgatar o “Titanic” econômico e social do Brasil, num momento em que muitos já haviam “abandonado o navio”. Essa tarefa heroica incluiu a formação de uma equipe ministerial composta por figuras de alta credibilidade, destacando-se como um esforço de restauração da normalidade política e econômica. Não é exagero dizer que, sob um sistema parlamentarista, Marcílio teria sido o Primeiro-Ministro.
Sua trajetória nesse período crítico pode ser comparada, guardadas as proporções, à de Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial. Embora o Brasil não tenha enfrentado um conflito armado, a crise econômica e social que ameaçava o país era um campo de batalha por si só. Foi a habilidade de Marcílio em estabilizar a economia que abriu caminho para o Plano Real, do qual colhemos frutos até hoje.
Marcílio teve uma formação sólida, marcada por um episódio traumático na infância: enquanto estudava na Áustria, presenciou a anexação do país pela Alemanha nazista. Essa experiência moldou seu caráter, reforçando sua adesão aos princípios do liberalismo filosófico e político, bem como seu compromisso inabalável com a ética.
Muito antes de sua atuação no governo Collor, sua trajetória inclui uma visão pioneira sobre problemas urbanos. Já na metade do século XX, ele chamava atenção para o crescimento das favelas, hoje conhecidas como comunidades, e suas implicações sociais. Sua preocupação com o urbanismo e a dignidade humana refletia uma visão que ia além dos números econômicos.
Outro capítulo marcante de sua carreira foi o período em que atuou como assessor do Ministro San Tiago Dantas, tanto no Itamaraty quanto na Fazenda, durante o conturbado governo de João Goulart. Essa experiência o preparou para representar o Brasil como embaixador em Washington, de 1986 a 1991, em um período crítico das relações bilaterais com os Estados Unidos.
Não há como sintetizar a profundidade e riqueza das quase 500 páginas de sua autobiografia. Contudo, é seguro afirmar que a leitura de O Social como Elixir é indispensável, especialmente num momento em que o Brasil de 2024 enfrenta desafios que ecoam os de 1991. Mais do que nunca, precisamos de líderes que, como Marcílio Marques Moreira, personifiquem ética, credibilidade e compromisso com o bem público.