
A Assembleia de Ratos em 2025
Conta-se na fábula de Esopo (620-560 a.C.) que, em tempos remotos, os ratos realizaram uma assembleia para discutir o maior perigo que assolava sua comunidade: o Gato. Sua presença, ameaçadora e silenciosa, tornava-se tão óbvia que palavras eram desnecessárias.
Após longos debates, um jovem rato apresentou uma ideia engenhosa: amarrar uma sineta no pescoço do Gato. Assim, o som os alertaria de sua aproximação, permitindo que fugissem para suas tocas.
No entanto, a sugestão foi silenciada pela pergunta implacável de um rato ancião: “Quem vai amarrar a sineta no pescoço do Gato?” Moral da história: propor soluções é fácil; implementá-las, nem tanto.
Atualizando a fábula para o início de 2025, os ratos contemporâneos convocaram uma Assembleia Geral Extraordinária para o dia 10 de janeiro. O evento coincidiria propositalmente com a divulgação do IPCA de 2024 pelo IBGE. Era o cenário perfeito para refletir sobre os desafios econômicos, sociais e políticos enfrentados pela comunidade.
Alguns números já circulavam: a taxa de câmbio fechara 2024 em R$ 6,19, acumulando alta de 27,4% no ano; a taxa de juros subira para 12,75%, com previsões de alcançar 15% em breve. E, para agravar a situação, o IPCA confirmava o desalinhamento: os 4,83% registrados ultrapassavam a meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Com o quórum necessário, o rato secretário iniciou os trabalhos, destacando o fracasso das medidas recentes lideradas pelo financeiro Gattad. Suas ações foram vistas como populistas e ineficazes, mais preocupadas em promover o PGT (Partido dos Gatos Trabalhadores) do que em solucionar os problemas da comunidade.
Um jovem rato, voz de uma nova geração, trouxe à tona uma análise alarmante: “Estamos à beira da ‘dominância fiscal’. O desequilíbrio das contas públicas atingiu tal ponto que nem mesmo o aumento das taxas de juros, determinado por Gatípolo, consegue frear o colapso iminente.”
A tensão aumentava. Muitos questionavam as decisões do passado e buscavam soluções práticas para o futuro. Foi então que uma proposta ousada emergiu: convencer a liderança máxima, Gatoinácio Mor, de que “gasto é dívida”, e não “vida”, como ele pregava. Embora seu discurso fosse carismático e popular, os números deixavam claro que o excesso de gastos ameaçava a estabilidade de toda a sociedade.
A proposta, no entanto, tropeçou na velha questão de Esopo: quem teria coragem de transmitir essa mensagem ao Gatoinácio Mor? Seu poder era esmagador, e sua resistência a críticas, lendária. Pior, os já desacreditados Gattad e Gatípolo não demonstravam a fibra necessária para enfrentar a liderança.
Com o impasse, a Assembleia foi suspensa. A pergunta pairava no ar, inabalável: quem vai convencer o Gatoinácio Mor a mudar de ideia?
Enquanto os ratos ponderavam em silêncio, um clima de resignação tomou conta da sala. Alguns recordavam assembleias passadas, repletas de discussões apaixonadas, mas sem resultados concretos. Parecia que a história, teimosa, insistia em repetir-se.
E assim, a Assembleia terminou sem resoluções. Alguns acreditavam que, um dia, surgiria um rato destemido para enfrentar o Gatoinácio Mor e liderar os ajustes necessários. Outros, mais céticos, saíram convencidos de que a fábula de Esopo continuaria sendo reencenada: discursos eloquentes de um lado, e a ausência de ação concreta de outro.
Tal como no passado, os desafios permanecem. Mas a coragem – essa, como sempre, continua em falta.